A Doce Violência Familiar – por Ranieri Basílio 


 

 

Eu sei como nossos corações estão duros, sei muito bem como é difícil se relacionar e como a vida é mais do que nunca um desafio. Vivemos dentro de valores que parecem não se sustentarem. Estamos sufocados por rancores e desilusões. Parece que o mundo se tornou um lugar vazio e frio, um lugar em que impera apenas as relações inumanas. O ser humano não importa mais, o respeito pela dignidade é questionado por interesses escusos. É dentro desse contexto que a família se encontra.

Os modelos de família hoje são variadíssimos, o mais natural é reconhecer a família como uma mixórdia. Ora, o modelo tradicional pai, mãe e filhos divide espaço com avós que criam os netos, frutos da adolescência (in)consequente; pode ser também a mãe solteira que tem de se virar porque o sujeito se mandou; podem ser os casais homoafetivos conquistando seus direitos de adotar, mostrando a importância da adoção como meio para formar uma família, pois o importante é quem cria e não quem faz como já diz o ditado.

Ainda há o fantasma da separação que traz consequências devastadores para muitos filhos. Hoje em dia são poucos os que querem casar, ter filhos, enfim, seguir um caminho que antes era considerado natural. Pois bem, o mundo muda e a família acompanha as mudanças.

A família é o primeiro grupo social a que nos filiamos, todos sabemos, mas o que não se discute é que ela pode ser um campo de batalha e bem sangrento por sinal. Certo, família também é união e creio mesmo que família unida é garantia de sucesso para todos os envolvidos, no entanto, ela pode ser um terror quando agride a um de seus membros. A violência pode assumir muitas formas, inclusive o amor pode ser uma delas.

Os interesses familiares, ou melhor, os interesses de alguns familiares é um problema. Conheço família que era muito unida, mas é só a matriarca ou o patriarca morrerem para começarem as brigas judiciais, é um querendo isso, é outro querendo aquilo, assim esquece-se o espírito de união para nunca mais.

Eu me pergunto se nós ainda merecemos alguma chance, se podemos tentar, ou se devemos ficar quietos em nosso canto. A consciência da situação difícil é mais forte de que nossa vontade de sermos mais solidários, no entanto estamos vivos e pronto. O tempo passa e não poderemos nos arrepender. Ignorar a vida é uma forma muito dolorosa de vivê-la.

 

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