O livro será lançado em Sobral na próxima sexta (24) e no sábado (25) no Ibiapaba Shopping, em Tianguá.
A História Que a Biografia Não Vai Contar, livro escrito pelo advogado Jorge Claudio de Almeida Cabral, relata a sua experiência quando acolheu em sua casa, no ano de 2013, o cantor e compositor Belchior. O livro tem em sua dinâmica principal a narrativa vivida, em que o autor é personagem coadjuvante da sua própria história. Em outros momentos, é constituída de fatos contados por Belchior. O autor imprimiu a forma no livro em discorrer sobre suas reflexões das situações da vida, sempre tendo como estímulo o fato de estar com Belchior em sua casa. Deste modo, o livro apresenta-se sob a forma da intimidade familiar, sendo intimista nas reflexões produzidas pelo autor, contendo filosofia, poesia e espiritualidade sobre o que pensou e sobre o que ocorreu ao seu redor, nessa ocasião. Isto está demonstrado já no primeiro capítulo com o título “ A Primeira Parte do Último Dia”, iniciando a narrativa do livro no amanhecer do dia em que Belchior iria embora da casa do autor. Relata a insônia daquela noite, gerada pela preocupação com o fato de Belchior ter de ir embora. Porém, mesmo que com certo pesar, entendia que era necessário que o artista seguisse sua vida, pela conclusão que havia chegado com seus familiares, uma vez que acolhê-lo, indeterminadamente, na verdade, o estaria prejudicando e não ajudando.
O primeiro capítulo além de reflexões intimistas iniciais do autor, imprime a dinâmica de contar mais sobre Belchior, prendendo a atenção do leitor pela curiosidade em querer saber o que acontecia, como ele era, como ele vivia, razão pela qual é o capítulo mais extenso. Os demais capítulos retornam ao início de tudo, quando se deu o encontro, que foi no balneário de Atlântida Sul pertencente à cidade de Osório/RS, por ocasião do pedido do amigo Samir. (…) e, como eu conhecia bem a casa do amigo Samir, fui até onde ele estava, nos fundos da casa, em uma espécie de área de lazer, com um avarandado. Ciente que poderia, naquele momento, estar agindo de modo inoportuno, tomei coragem, afinal era uma oportunidade imperdível. Mesmo que a minha atitude fosse inapropriada e desagradável, pouco me importei em ser educado e escolhi dar a mim mesmo a satisfação de cumprimentá-lo pessoalmente. (…)
Neste primeiro encontro, a conversa se estendeu por mais de cinco horas, com diversos assuntos, dos quais destacou-se a física quântica. (…) As horas se transformaram em minutos, o tempo rapidamente passou sem que nos déssemos conta, éramos a prova viva da teoria da relatividade de Einstein. (…)
(…) As horas passavam e o universo ficou pequeno para nossa conversa, resolvemos então sair do universo e entrar no multiverso, lá tinha mais espaço, era assunto que não tinha fim, ou se tinha fim, era tão distante de nós que era como se não tivesse. Era destes assuntos, dentre outros, que Belchior se interessava e possuía grande conhecimento (…)
(…) Confesso que não lembrava daquele experimento realizado por Einstein, que tinha a cidade de Sobral, lá no Ceará como a escolhida pelo cientista alemão, entre duas no mundo inteiro, para a realização da sua demonstração científica. Belchior iniciou a história de forma hilária e jocosa, característica da sua personalidade peculiar e de seu formidável humor, o que revelou seu talento também como ator, pois suas histórias sempre vinham com representação dramatúrgica. (…)
Outras mais ocorreram, naquele balneário, até o convite para que viesse passar uns dias no sítio da família. (…) Belchior se adaptou rapidamente ao ambiente e a nossa família. Aquele constrangimento inicial de pessoa famosa e ao mesmo tempo estranho, não se fazia mais presente. Ambientado, começou a desfrutar da natureza e já no dia seguinte, caminhava pelo sítio, servindo-se das frutas, como os caquis e as bergamotas. (…)
Assim, sucessivamente, vão se dando os capítulos, acompanhando esta trajetória, como no capítulo “Da Praia Para o Sítio”. Na sequência, narra os reencontros nos fins de semanas, quando o autor, com a família, dirigia-se para o sítio e a maneira como eram recebidos por Belchior, efusivamente bem humorado. Relata as conversas ocorridas, nos mais variados temas, tais como: filosofia, cinema, músicas e espiritualidade. Há também o relato de muitas brincadeiras que denotam a personalidade cômica de Belchior e sua inteligência em relação a todos os assuntos conversados. (…)Tivemos o privilégio de assistir particularmente suas cômicas representações, às vezes eu sozinho consigo na madrugada, quando a família já havia ido dormir. O silêncio do sítio era rompido pelas gargalhadas das suas encenações teatrais de fatos reais e lembranças da sua vida trazidas à tona, naquele momento, em explosão recreativa e criativa de puro divertimento e leveza, quase infantil. Em todas as situações vividas, mesmo as mais amargas, os sofrimentos, se lembrados de forma sadia podem se tornar boas lembranças. Talvez assim seja melhor, lembrar da dor sem que ela faça doer, ao contrário, fazer daquilo que foi dor, o riso do presente, uma vez que certas lembranças, efetivamente, já não doem mais, pois nada é para sempre , tudo é passageiro. (…)
Sempre manteve-se bem atualizado com o que ocorria na sociedade, através dos noticiários. O autor relata que em junho de 2013, período em que o país vivia as manifestações nas ruas, certa vez, assistindo ao noticiário com ele, verificaram num cartaz de um dos manifestantes uma frase sua. (…) como foi o caso da Velha Roupa Colorida, na frase: “ Você não sente e não vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer”. Isso enchia Belchior de satisfação ao ver que o grito da mudança dado lá nos idos dos anos 70, estava presente nos jovens que não viveram com ele na época, quando a canção havia sido lançada, mas perpetuava-se popularmente como chamamento para mudanças no presente. (…) Ao que o autor aduz ter sido muito gratificante estar ali, naquele momento, na presença daquele que tinha expressado aquele sentimento em sua composição e que fazia eco na juventude de hoje, através de reivindicações sociais.
Relata ainda, nos capítulos seguintes, histórias vividas por Belchior e contadas por ele, geralmente em tom humorístico, uma veia pouco conhecida do artista e que transformava mesmo as vivências menos agradáveis ou embaraçosas em fatos cômicos e engraçados. (…)Belchior contava histórias ocorridas no início da carreira, de situações inusitadas. (…) trazidas de suas memórias, com riqueza de detalhes, divertiam a todos e nos faziam rir muito. Em muitas de suas canções são encontradas algumas referências para as situações experimentadas.(…)
A obra também fala um pouco sobre as canções de Belchior e suas inspirações em poemas e composições de outros artistas, inserindo-as em suas músicas, na figura de relações intertextuais, com base no estudo acadêmico da doutora Josely Teixeira Carlos. (…) O comportamento de Belchior, na época, lembrava letras de suas canções, como é o caso da canção com o título “ Tudo Outra Vez”, onde, na primeira frase, traz lá de longe, de décadas passadas, uma idéia que diria um místico tratar-se de uma visão premonitória de si mesmo ou um projeto de futuro, concretizado na última década que viveu. Uma coincidência ou uma realização do que escreveu há mais de quarenta anos, no refrão : “… Há tempo, muito tempo que estou longe de casa… e nessas ilhas cheias de distâncias”.
No capítulo O Retorno para Porto Alegre, fatos ocorridos no sítio são descritos e mais alguns dias se passam, até a difícil decisão de dizer a ele que teria de ir embora. “ A Segunda Parte do Último Dia”, relata a despedida e o momento em que foi levado à UBC (União dos Compositores do Brasil).
(…) Belchior com seu modo, seu trato, sua humildade e sua simplicidade, além de nos comover, tornava-se para nós todos, a cada dia, mais cativante. A fama, o passado público do artista, a admiração por seu trabalho e as conversas dos dias anteriores contribuíram para minha decisão. (…)
Por fim, o livro aborda a morte, com o Capítulo “ 30 de abril de 2017”, onde o autor relata que na véspera da passagem de Belchior, escreveu o poema ESTRELAS, utilizando a mesma frase que o artista utilizou em Divina Comédia Humana do soneto de Olavo Bilac, abrindo a possibilidade de uma despedida de Belchior, em forma de energia eterizada e eternizada, o que aliás discutiam com frequência, a cerca da possibilidade da existência, não só pela religiosidade, mas através da física quântica. Encerra a obra o capítulo “Quem Era Ele Entre Eles“, com suas impressões finais, advindas da observação da relação entre Belchior e sua companheira, a qual o autor não pronunciou o nome no livro, este capítulo são as impressões e razões que teria havido na decisão sobre a reclusão do artista e seu consequente estilo de vida nos últimos dez anos.
(…) Belchior era uma pessoa, cujos predicados não lhe faltavam e fácil era admirá-lo. Amizades por onde passou sempre deixou, sem queixas, com exceção no que diz respeito ao modo como havia vivido nos últimos anos de sua vida. (…) e lastimando, com certa decepção, sua escolha pela reclusão. (…)
O livro foi lançado em Porto Alegre RS., no dia 27 de outubro na Casa de Cultura Mário Quintana, em homenagem a passagem da data de nascimento de Belchior um dia antes.
O livro tem a capa criada pelo autor e arte ilustrada pelo poeta e artista Cearense, Cícero Almeida, cuja paisagem refere-se à casa onde Belchior permaneceu com a imagem de seu rosto inserido e formado pelo contexto da natureza, cujos elementos formam seu rosto. O livro contém 232 páginas, produzido e editado pelo Autor.
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